É uma das questões que mais têm sidas feitas desde que começou o combate contra a Covid-19: máscara, sim ou não?. De diferentes lados, surgem vozes dissonantes quanto à utilização – ou não – pela população não infetada para evitar a propagação do coronavírus. Sem unanimidade internacional, são vários os países cujos cidadãos têm decidido individualmente se devem utilizar a proteção e muitas vezes surgem com soluções que podem ser inusitadas.

Há várias semanas que a Organização Mundial de Saúde (OMS) tem repetido o alerta: não utilizar máscaras se não está infetado ou se não está a tratar de alguém. Ainda nesta segunda-feira, o diretor executivo do programa de emergência da OMS voltava a realçar isso mesmo, em conferência de imprensa: “Não há evidências específicas para sugerir que o uso de máscaras pela população em massa tenha algum benefício”. Mike Ryan deixava ainda o alerta para as consequências do uso indevido da proteção, que, como partilhou o Observador num vídeo da própria organização, pode levar ao contágio.

Em Portugal, é também esta postura que a Direção-Geral de Saúde tem mantido, alegando constantemente “uma falsa sensação de segurança”. Por isso mesmo, Portugal está englobado no conjunto de países que mereceram críticas de George Cao, diretor-geral do Centro Chinês de Controlo e Proteção de Doenças: em entrevista à revista Science, o responsável destacou que “o grande erro nos EUA e da Europa é o facto de as pessoas não estarem a usar máscaras“.

É precisamente contra esse erro que três países e uma cidade na Europa se decidiram posicionar: na República Checa, na Áustria, na Eslováquia e na cidade alemã de Jena, a utilização de máscaras tornou-se obrigatória, com nuances que variam de país para país.

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Todos partem do pressuposto de que é melhor ter algo a cobrir a cara do que nada e que é um esforço para reduzir a transmissão em massa. Como abaixo explica um vídeo da República Checa, o problema pode estar na forma como infetados assintomáticos – ou seja, sem sintomas – podem contaminar outras pessoas – e de como o uso de proteção pode diminuir a probabilidade de contágio em massa.

República Checa: máscaras caseiras em larga escala

O governo checo decretou como obrigatória a utilização de máscaras por toda a população que tivesse de sair à rua e o resultado acabou por ser uma onda de solidariedade no país. Sem garantias do governo de que iria distribuir a proteção pela população, os checos começaram a produzir máscaras caseiras em grande escala e a distribui-las entre si.

De instituições de ensino superior a quem está em quarentena, todos os que possuem uma máquina de costura em casa têm dado a sua contribuição. A onda ganhou tal dimensão que existe mesmo um site, o Damerousky, que mostra os locais por todo o país onde podem ser recolhidas as máscaras.

Em paralelo, o próprio ministro da saúde checo posicionou-se ao lado do movimento #Masks4all – “Máscaras para todos” em português – que apela à necessidade da generalização do uso deste tipo de proteção não só na República Checa como noutros países. “Ajudem-nos a mudar o maior número de países possível”, pedem.

No vídeo, que já conta com quase dois milhões de visualizações, o movimento tenta justificar o porquê de qualquer proteção hoje ser importante. Recorrem a estudiosos, entre eles Emil Pavlik, microbiologista e virologista, que afirma que “quanto mais pessoas usarem máscaras, menos indivíduos são expostos”.

Áustria: distribuição à porta de grandes superfícies

A Áustria contava na manhã desta terça-feira com mais 10 mil pessoas infetadas com o vírus da Covid-19. Os números, para Sebastian Kurz, chanceler austríaco, mostram que o rácio de infeções no país permanece “demasiado alto”. O objetivo final das medidas adotadas pelo governo poderá ser a utilização de máscaras por todas as pessoas que saiam à rua. Mas não é para já.

A partir desta quarta-feira, 1 de abril, quem quiser dirigir-se a um supermercado terá obrigatoriamente de cobrir o nariz e a boca com uma peça de roupa ou com uma máscara – uma medida que, para o chanceler do país, se enquadra num “esforço e disciplina” necessários neste momento.

Serão distribuídos gratuitamente milhões de máscaras pelo país, principalmente à entrada das superfícies comerciais.

Eslováquia: máscaras na rua

Na Eslováquia, a população tem-se mostrado bastante favorável às medidas que o governo tomou para combater o surto do coronavírus. Um estudo feito pelo jornal Dennikn mostra que 80% concorda com as ações realizadas e ainda 13% gostaria que fossem mais rigorosas.

Sem registar vítimas mortais e ainda distante dos números preocupantes da Europa Ocidental, até esta terça-feira a Eslováquia tinha apenas 363 infetados. Contudo, são números que para o governo parecem suficientes para uma contenção com medidas ainda mais rigorosas.

Tal como na República Checa, todos os cidadãos que estiverem na rua terão de usar máscara de proteção e as filas que existirem terão de ter um espaçamento de dois metros entre cada pessoa. Além disso, desde esta segunda-feira que passa a ser obrigatória a medição de temperatura à entrada de estabelecimentos comerciais, hospitais e fábricas e as lojas passam a ter de encerrar ao domingo para serem desinfetadas.

Jena (Alemanha): costuradas em casa e “não precisam de ser perfeitas”

Jena é a primeira cidade alemã a tornar esta medida obrigatória: na segunda maior cidade do Estado Livre da Turíngia, a população terá mesmo de se proteger quando estiver em transportes, pontos de venda e repartições públicas.

No anúncio, feito também pelas redes sociais, a autarquia refere que consegue garantir máscaras e equipamento básico a profissionais de saúde, motoristas de transportes urbanos e outros trabalhadores públicos, mas pede ajuda à restante população para que costure máscaras de proteção em casa e que “não precisam de ser perfeitas”.

???? Corona-Fallzahlen: 119 gemeldete Fälle???? Die Debatte um die Pflicht zum Tragen von Mund-Nasen-Schutzmasken hat…

Posted by Jena – Lichtstadt on Monday, March 30, 2020

A cidade de Jena conta com mais de 110 mil habitantes. Desde o início da pandemia, o estado da Turíngia já registou seis vítimas mortais e cerca de 800 casos confirmados de doentes com Covid-19.

[Como se proteger. Um manual animado]